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Como ter sorte: uma história (verdadeira) de pescador.

Como ter sorte: uma história (verdadeira) de pescador.

Há alguns meses li uma reportagem que misturava um pingo de comédia com certo grau de tragédia, mas que é a analogia perfeita para uma lição sobre como ter sorte.

A notícia informava que pescadores de uma vila do Rio Grande do Norte haviam fisgado um raro atum azul de 350 quilos. Seu valor podia chegar a aproximadamente 2 milhões de dólares no Japão, onde sua carne é a mais nobre na arte do sushi. Na cotação atual, seria o equivalente a 10 milhões de reais! É quase um prêmio da mega sena, mudaria a vida de qualquer pessoa.

A parte trágica da história é que os pescadores não tinham conhecimento do quão valioso era o peixe e, principalmente, não estavam preparados para armazená-lo da forma correta. Para aproveitar ao máximo o resultado da pesca, o ideal seria que fizessem uma sangria e retornassem imediatamente à costa, mantendo na máxima qualidade a carne do animal.

Não me admira que eles não soubessem disso, na verdade. Nos últimos 15 anos, foram relatados apenas 4 peixes como esse pescados no mundo.

Quando voltaram do mar, 15 dias após essa verdadeira história de pescador, o atum já estava sem condições de ser exportado. Ao invés de virar sushi em Tokyo, o peixe foi dividido entre membros da comunidade de Areia Branca e virou fritura — o que pessoalmente não considero nenhum problema gastronômico, apenas um gigantesco fiasco financeiro.

É por isso que a primeira coisa que me veio à cabeça ao ler a notícia foi a famosa frase dita pelo filósofo Sêneca, dois mil anos atrás: "sorte é o que acontece quando o preparo encontra a oportunidade".

Eu sou um otimista por natureza — até porque é bom para a saúde. Sempre acredito que o mundo nos apresenta milhares de oportunidades para melhorar, evoluir e crescer. Muito cedo, no entanto, já ficou claro para mim que nós não conseguimos aproveitar essas oportunidades se não estivermos bem preparados.

Na verdade, se não tivermos o mínimo de preparo, nós não conseguimos nem enxergar as oportunidades que nos aparecem. Corremos o risco, assim, de nos tornarmos pessoas que reclamam da vida injusta, das chances que nunca tivemos mas parecem abundantes na vida dos outros.

Lembre-se: a nossa liberdade de escolha está totalmente relacionada com nosso preparo para reconhecer as situações e tomar as melhores decisões no contexto.

Não estar preparado dá azar

No livro A Escolha, de Eliyahu M. Goldratt e Efrat Goldratt-Aschlag, os autores dão um bom exemplo sobre a importância disso: suponha que você tenha uma excelente chave de fenda e que precise tirar um parafuso de uma mesa. Se, por alguma razão, você não estiver preparado para reconhecer o parafuso e acreditar que trata-se de um prego, automaticamente você vai chegar à conclusão — errada — de que não tem a ferramenta certa para o trabalho.

Quanto mais incompleta a informação sobre o contexto, maior a sua dependência de outras pessoas para realizar algo que você poderia ter feito. Com o agravante que você e seus salvadores podem ainda entrar em uma contraproducente discussão sobre o objeto preso à mesa: é um prego ou um parafuso, afinal?

A Universidade da Pennsylvania, nos Estados Unidos, fez um estudo sobre sorte. Lá eles tem uma prova para a admissão de alunos, semelhante ao ENEM que temos aqui.

O objetivo da pesquisa era comparar a nível de sorte que cada estudante dizia ter com a sua posterior performance no exame. O resultado? Quanto mais os alunos achavam que tinham sorte, piores eram as suas notas. Isso porque a sorte por si só não nos ajuda. Para que ela coloque toda a sua gloriosa força sobre nosso destino, ela deve estar associada a algo muito mais importante: preparo.

Nós é que fazemos a nossa sorte. Claro que mesmo preparados não acertaremos sempre. Mas ter a consciência da necessidade de se preparar sempre e poder reconhecer as oportunidades que caem em nosso colo, tomando as melhores decisões com as ferramentas que temos, é um ótimo começo.

A melhor maneira de aumentar a nossa sorte é aumentando o nosso preparo. E mesmo que consigamos fisgar um peixe raríssimo, de milhões de reais, podemos aproveitar esta sorte no seu máximo. Ou, se preferirmos, dividi-la com quem importa para a gente.

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