Prevenção do Suicídio: conheça os fatores de risco e proteção.
Equipe NSaúde
6 de set. de 2021 - Leitura de
5 min
Um dia dedicado, um mês de mobilização, uma vida de cuidados. O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio é 10 de setembro. No Brasil, criou-se a campanha Setembro Amarelo para impactar mais as pessoas sobre a importância deste tema.
O suicídio é um tema que exige cuidados permanentes em família e no ambiente de trabalho. Segundo dados divulgados pelos organizadores da campanha, cerca de 12 mil suicídios são registrados todos os anos no Brasil. No mundo, são mais de um milhão. Cerca de 96,8% desses casos de suicídio têm origem em transtornos mentais como a depressão, o transtorno bipolar e o abuso de substâncias.
Pessoas que sinalizam a intenção de se suicidar ou idealizam o suicídio têm 30 vezes mais chances de cometer este ato. São principalmente elas que se beneficiariam de um sistema melhor preparado para diagnosticar e prevenir o risco. Mas todos nós temos a ganhar quando nossa saúde mental é tratada com mais clareza.
Por que devemos conversar mais sobre o comportamento suicida?
O suicídio é uma tragédia que, muitas vezes, poderia ter sido evitada. Mas porque continuamos atrasando tanto sua prevenção por conta de estigmas e tabus?
Por razões religiosas, morais e culturais, durante séculos o suicídio ou sua ideação foram considerados uma falha de caráter, um pecado. Talvez o pior deles.
O medo e a vergonha inibem um diálogo aberto, constrangem pessoas que estão sofrendo e as impedem de buscar ajuda na hora que mais precisam. A dificuldade em falar sobre o assunto compromete o diagnóstico e a prevenção. É uma tragédia anunciada.
Qualquer preconceito em relação a condições mentais e psicológicas contribui para a manutenção deste estigma, o que, por sua vez, só aumenta os riscos de suicídio.
Por isso, é importante deixar claro: não existe pecado ou falha de caráter em buscarmos ajuda para nossa saúde física e mental. Nunca.
E, por outro lado, ouvir uma pessoa em situação vulnerável e abordar o assunto com objetividade sempre será a melhor forma de acolher e cuidar de qualquer doença. Com o suicídio não é nada diferente. Derrubar o tabu que envolve o tema é um passo importante para tornar a prevenção mais difundida e eficaz.
O aumento dos fatores de risco na pandemia de Covid-19
Muitos estudos vêm analisando qual o efeito que a pandemia de Covid-19 pode ter para agravar os fatores de risco ao suicídio.
O distanciamento físico e social, o desemprego e a falta de atividade econômica, a ameaça de internação hospitalar e a forte presença da morte criam um ambiente que afeta negativamente a saúde mental de todos nós.
Este alerta já foi feito pela OPAS, Organização Pan-Americana da Saúde, citando análises que mostram um aumento generalizado na angústia, ansiedade e depressão.
A entidade destaca também o possível aumento da violência, do consumo de álcool e abuso de substâncias.
Como identificar os ‘fatores de risco e proteção’ na prevenção do suicídio?
O comportamento suicida é resultante de uma série de fatores, sejam psicológicos, genéticos, culturais ou sociais. Estes, por sua vez, se somam a vivências traumáticas e ao sentimento de perda.
As pessoas que alimentam ideações suicidas formam um grupo heterogêneo, das mais diferentes origens e experiências de vida. Cada qual com suas influências únicas, de natureza complexa e com múltiplas repercussões em sua saúde mental.
É justamente por não haver um perfil definido para pessoas com este risco que todos devemos nos engajar como pudermos na prevenção ao suicídio. É preciso estarmos abertos a ouvir o que os outros sentem, e estarmos abertos a falar sobre o que sentimos.
Por isso, é importante conhecer bem quais são principais fatores de risco. Veja abaixo os principais deles:
Tentativa prévia de suicídio
Este fator é importante porque pacientes que tentaram suicídio previamente têm de cinco a seis vezes mais chances de tentar novamente. Estima-se que em metade dos casos, eles já haviam tentado previamente.
Doença mental
Quase todos os suicidas apresentam alguma condição que afeta sua saúde mental. Muitas vezes, são doenças não diagnosticadas, ou não tratadas, ou ainda não tratadas de forma satisfatória. Pessoas com múltiplas comorbidades psiquiátricas têm maiores riscos.
Desesperança, desespero, desamparo, impulsividade
É preciso estar atento aos sentimentos de desesperança, desamparo e desespero. Eles são fortemente associados ao suicídio. A impulsividade, primordialmente entre jovens e adolescentes, é um importante fator de risco. Associada à desesperança e ao abuso de substâncias, infelizmente pode formar uma combinação fatal.
Idade
Nas últimas décadas, o comportamento suicida tem crescido entre jovens e adolescentes no mundo inteiro. No Brasil, é a terceira causa de morte menores de 18 anos. As motivações são complexas, envolvendo depressão, abuso de substâncias, história familiar de transtorno psiquiátrico, rejeição e abuso físico e sexual na infância. Entre idosos ele ocorre devido à perda de parentes (sobretudo do cônjuge), solidão, convivência com dores crônicas e falta de autonomia.
Gênero
O ato do suicídio é três vezes mais comum entre homens — inversamente, as mulheres são responsáveis por mais tentativas de se suicidar. Esta contradição ocorre porque, em geral, o universo masculino é associado a maiores níveis de força, independência e comportamento de risco. A solidão e o isolamento social são os principais fatores associados a eles. As mulheres têm redes sociais de proteção mais fortes e se engajam mais facilmente em atividades comunitárias.
Doenças clínicas não psiquiátricas
Os casos são mais frequentes entre pacientes com doenças neurológicas (esclerose múltipla, Parkinson, Huntington e epilepsia), HIV, câncer, doenças cardiovasculares (infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico), além de doenças reumatológicas. Os primeiros meses após o diagnóstico também constituem situações de risco.
Eventos adversos na infância e na adolescência
Médicos, professores e pais devem se atentar para o abuso ou a dependência de substâncias associados à depressão, ao desempenho escolar muito irregular, aos conflitos familiares, à incerteza quanto à sexualidade, ao sentimento de desesperança e à falta de apoio social.
História familiar e genética
O risco é maior entre aqueles com história familiar de suicidio ou de tentativa de suicídio. Estudos de genética epidemiológica mostram que há componentes genéticos, assim como ambientais, envolvidos. O risco de suicidio aumenta entre aqueles que foram casados com alguém que se matou.
Fatores sociais
Comunidades com fortes laços sociais têm menores taxas de suicídio. Desempregados com problemas financeiros ou trabalhadores não qualificados têm maior risco. As taxas também aumentam em períodos de recessão econômica. Segundo estudos, a solidão pode aumentar o risco de suicídio, com taxas mais elevadas entre indivíduos divorciados ou que nunca se casaram.
A importância da Campanha de Prevenção do Suicídio nas empresas.
Empresas que adotam uma política de bem-estar físico e mental entre seus colaboradores mostram que a prevenção, tanto do suicídio quanto de outras condições de saúde, é uma tarefa permanente. Este acompanhamento de perto é, na verdade, a melhor arma de combate à deterioração da saúde mental.
Em função disso, o recomendado é que as empresas aproveitem todas as oportunidades que tiverem — como o Setembro Amarelo — para realizar uma conversa franca e esclarecedora sobre o tema.
Apesar de o suicídio ser, em alguns momentos e locais, uma crise de saúde pública, nem todo mundo se atenta à importância da sua prevenção. Pode ser mais um efeito adverso do tabu. Portanto, atividades de conscientização são a melhor oportunidade para divulgar informações baseadas em evidência, que transformem os funcionários em multiplicadores do cuidado em sua comunidade. Eventos como estes têm um poder transformador entre todos que vivem em torno da empresa, seja para acolherem ou serem acolhidos em momentos de ideação suicida.
Uma ressalva importante: enquanto as informações gerais sobre o tema devem ser compartilhadas com todos, a atenção àqueles que precisam pessoalmente de cuidado e prevenção do suicídio exige discrição e profissionalismo. Tenha na empresa um ambiente seguro e livre de interrupções para ouvir e assistir a colaboradores que estejam angustiados, desamparados ou deprimidos — não só durante o Setembro Amarelo, mas sempre. Ninguém pode ser obrigado a falar em público sobre o que pensa e deseja na intimidade.
Em conclusão
São muitos os incentivos para tornar ações de prevenção do suicídio um objetivo diário nas famílias e nas empresas, que têm no Setembro Amarelo uma oportunidade a mais para trazer a este tema ainda mais urgência. Informação de qualidade, difundida com clareza e baseada em fatos é a principal estratégia para vencermos juntos o preconceito e criarmos em nossas comunidades redes de proteção para pessoas vulneráveis.