Bem-Estar

Síndrome de Burnout: Causas, Sintomas e Tratamento.

Síndrome de Burnout: Causas, Sintomas e Tratamento.

A Síndrome de Burnout passou a ser considerada como uma doença ocupacional em janeiro de 2022. No CID-11 da Organização Mundial da Saúde (OMS), deixou de ser um quadro psiquiátrico para ser descrita como o estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso. Se antes estava mais associada ao indivíduo, agora a condição deve ser vista dentro do aspecto da saúde corporativa.

O conceito clínico de uma Síndrome de Burnout é o conjunto de sintomas físicos e emocionais causado pelo estresse crônico.

Quando estamos carregando estresse por um longo período de tempo e não conseguimos relaxar, sintomas físicos e emocionais vão aparecendo até que o nosso corpo chegue a um colapso.

Cada pessoa manifesta esse estresse de uma forma diferente, pois não se trata de uma escolha, mas uma resposta do organismo a um fator estressor.

O psicanalista alemão Herbert Freudenberger, que cunhou o termo burnout na década de 1970, documentou os efeitos da sobrecarga emocional com especial foco no ambiente de trabalho. A partir de suas pesquisas foram surgindo outros trabalhos focados na saúde integral dos colaboradores de uma empresa.

Hoje, de acordo com a International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), a Síndrome de Burnout acomete 1 a cada 3 trabalhadores no país.

Em alguns países e setores, esta condição já pode ser considerada epidêmica. Um estudo publicado pela Universidade de Stanford no jornal Mayo Clinic Proceedings analisou os efeitos do burnout entre profissionais da saúde. Segundo os pesquisadores, o alto índice de estresse entre médicos pode ser um dos principais motivos na ocorrência de erros médicos. Os efeitos são amplos e deletérios: influenciam na qualidade do cuidado, segurança e satisfação do paciente.

Quais o sintomas e causas da Síndrome de Burnout?

Exaustão física e emocional são sintomas da Síndrome de Burnout.

De acordo com a Dra. Cristina Maslach, professora de psicologia na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, que pesquisa sobre burnout ocupacional, esta condição pode ser categorizada em 3 eixos principais de sintomas.

1 – Exaustão física e emocional

Caracterizadas por fadiga crônica, insônia, cognição prejudicada, ansiedade, depressão, irritação, além de dores no peito, na cabeça e respiração acelerada.

2 – Sentimentos de cinismo e despersonalização

Esse eixo de sintomas traz a aparência de que em algum momento tudo perdeu o sentido. Pacientes relatam perda de ânimo, pessimismo, isolamento e resistência ao socializar, distanciamento e esquiva. O sentimento é de desconexão com as pessoas e com o ambiente em sua volta.

3 – Ineficácia e falta de realização

Sintomas comuns são apatia, impotência, falta de esperança, produtividade reduzida. Estados mentais que levam a pessoa à pensar apenas na sua incapacidade. Com o raciocínio prejudicado a irritabilidade aumenta devido a sensação de improdutividade.

O estresse é uma resposta fisiológica a qualquer coisa nova ou significativa em nossa vida.

Quando estamos em uma situação de estresse podemos manifestar três respostas fisiológicas que fazem parte de um instinto primitivo do sistema nervoso: luta, fuga ou congelamento.

Trazendo para o dia-a-dia, em uma situação de luta, a rispidez entra em ação. Já em uma manifestação de fuga a tendência é adiar, procrastinar e fugir da situação. Por fim, o congelamento quando alguma parte da pessoa acredita que não tem saída e o melhor é silenciar, ignorar.

Quando estamos constantemente passando por situações estressantes, a todo momento reproduzimos uma dessas três respostas. E é isso que pode nos adoecer.

Outra causa da Síndrome de Burnout é o conceito de identidade e expectativa. Quando nosso investimento é somente nas demandas e expectativas dos outros, geralmente ocorre um distanciamento da essência pessoal que também precisamos cultivar.

Você trabalha para viver ou vive para trabalhar?

Mulher sentada no sofá de casa falando no telefone e usando o computador, com o filho desenhando ao lado.

Provavelmente você já deve ter ouvido a palavra workaholic ou adição ao trabalho. Essas palavras definem as pessoas que trabalham de forma compulsiva, sem igual investimento em outras esferas importantes da vida moderna.

O vício pelo trabalho está inteiramente ligado ao estresse crônico e à Síndrome de Burnout. Essa dependência não é apenas uma questão individual, mas também cultural e social.

Muitos setores do mercado de trabalho celebram o extremo engajamento nas atividades profissionais. Esquecem que esforço e dedicação são tão importantes quanto o descanso. Integrar com zelo os aspectos pessoais e profissionais é essencial para atingir melhor qualidade de vida no longo prazo.

É muito importante fazer a reflexão do que o trabalho é na sua vida. Se é, por exemplo, uma das fontes de satisfação ou a única. Permitir quebrar o vício em trabalho exige a destinação de tempo para outras áreas da vida e respeito aos limites físicos e mentais de cada um.

A Síndrome de Burnout tem cura?

Dentro do ambiente de trabalho todos estão suscetíveis ao estresse. Como sabemos, cada pessoa responde de formas diferentes a ele. Quando os estressores são muitos e variados — dentro de uma empresa em alto crescimento, por exemplo — uns irão ser estimulados, pois têm maior resistência, e outros terão respostas negativas do organismo.

Mas mesmo entre estes últimos, ninguém é naturalmente disposto a ter um colapso em público. Quando a saúde mental começa a se deteriorar, normalmente a parte mais difícil do diagnóstico de Síndrome de Burnout é a aceitação.

É talvez por isso que os estudos da Dra. Cristina Maslach indicam que a recuperação plena de um burnout pode levar anos. Em geral é necessária a intervenção de um especialista para auxiliar neste movimento de busca e compreensão.

Segundo o psicólogo do Norden Hospital, Édico Custódio da Silva, "o tratamento envolve o papel fundamental do olhar psicológico na busca de compreender a atual situação do paciente, conhecendo e reorganizando suas limitações".

Então, sim, a Síndrome de Burnout tem cura. Exige, no entanto, uma reconexão interior e ressignificação dos conceitos com relação ao trabalho e à vida em geral. O entendimento de que o estresse é uma resposta fisiológica e independe do nosso querer também é fundamental.

Muitas pessoas, após passar pela por um episódio de burnout, não conseguem retornar ao mesmo ambiente de trabalho. Para elas, a cura depende do afastamento do estressor.

Assim como a síndrome, a solução também é complexa. Não existe uma receita pronta para a cura, tudo vai depender do processo de autoconhecimento e os limites impostos.

A pedido do NSaúde, o psicólogo Édico Custódio escreveu uma coluna sobre este assunto.

5 práticas e estratégias para regulação do estresse

Mulher sentada meditando com os braços sobre os joelhos.

Para atingir melhor integração entre as diferentes esferas da vida, tente investir em alguns hábitos que irão ajudar no controle do estresse:

Escrita

Muitas vezes a escrita de sentimentos no papel — ou tela — mostra soluções que talvez não estavam tão óbvias em nosso pensamento. É importante que tenha uma garantia de confidencialidade, para que se consiga ser extremamente honesto consigo mesmo.

O psicólogo James W. Pennebaker Phd, professor na Universidade do Texas, escreveu um livro sobre o assunto: Opening Up by Writing It Down: How Expressive Writing Improves Health and Eases Emotional Pain (em tradução livre: Escrever para se Abrir: Como a Escrita Expressiva Melhora a Saúde e Alivia as Dores Emocionais).

Nele, Pennebaker e o co-autor Joshua M. Smyth PhD, sugerem que escrever sobre nossas emoções pode até ter efeitos positivos no sistema imunológico. Mesmo que novos estudos sejam necessários para determinar melhor a causalidade do ato de escrever e a melhora da saúde física, os efeitos dele na saúde mental são comprovados, principalmente quando feito com uma única preocupação: expressar e entender os sentimentos vividos (ou seja, sem preocupações exageradas com a gramática e a literalidade do texto).

Meditação ou exercício de respiração

A meditação é um exercício de concentração que visa equilibrar emoções e trazer uma nova forma de lidar com estresse físico e psicológico.

Ajuda a reduzir os impulsos de alerta do sistema nervoso parassimpático e aumenta as atividades da região do cérebro chamada córtex pré-frontal, a parte que estimula o raciocínio e a criatividade.

Hoje existem apps que ajudam o iniciante a conhecer melhor os benefícios desta prática.

Exercício físico

O exercício ajuda na ativação e no relaxamento de áreas do nosso corpo, trazendo a sensação de bem-estar.

Além de liberar endorfinas no cérebro a atividade física ajuda a relaxar os músculos e aliviar a tensão no corpo.

Em nosso guia de metas para a saúde oferecemos dicas de como e porque investir neste hábito.

Dedicar-se a um hobby

Alguns dos sintomas da Síndrome de Burnout demonstram uma desconexão entre a pessoa e aquilo que lhe é mais importante. Criar, manter e se divertir com um hobby pode restabelecer este equilíbrio.

Ter um hobby é ter um momento único para você sem metas e prazos. Este hábito ajuda a regular as emoções e o estresse em outras esferas da rotina.

Para usufruir ao máximo dos benefícios desta atividade, no entanto, é importante evitar ao máximo que ela se torne uma obrigação. Em outras palavras, um novo trabalho.

Relações pessoais

O sentimento de segurança, amabilidade, aceitação e valorização colabora para o bem-estar.

Em dias ruins, possuir relações afetivas fortes e harmônicas ajudam no enfrentamento de obstáculos e problemas. Em dias bons — e normais e também ruins — cultivar relacionamentos positivos e recíprocos é um dos mais importantes sentidos da vida.

Olhe em volta: ninguém está sozinho.

Adoecer é sempre o resultado de múltiplos fatores. A cultura do trabalho pode influenciar, ignorando todas as outras sensações que contextos e relacionamentos diferentes podem nos trazer.

Negar a importância do autoconhecimento e do autocuidado também tem influência no declínio da saúde mental — e, por consequência, física. Conseguir acessar, aceitar e trabalhar nossas próprias limitações é parte do esforço contínuo de cuidar de nós mesmos.

Quem se encontra em um episódio de burnout precisa de ajuda. Ao acolher, é importante demonstrar confiança e evitar julgamentos. Ofereça referencias, no entanto, não é se responsabilize pela cura. Frequentemente lembre a pessoa de quem ela realmente é, pois a Síndrome de Burnout o afasta de sua própria identidade.

Somos ensinados que uma pessoa vale o tanto que ela produz. Mas a verdade é bem mais complexa. Relações que não estão sujeitas a títulos, metas e entrega constante também são parte do que nos valoriza.

Caso você tenha se identificado ou conheça alguém que relate sintomas como exaustão física e emocional, sentimentos de cinismo, despersonalização e decepção, procure o acompanhamento de um médico e psicólogo de confiança. Seja no trabalho, seja em casa, cuidar da saúde mental nos faz mais fortes.

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